Quem são os caranguejos que atrapalham as nossas vidas?

João Kepler
4 min readDec 5, 2016

A característica mais conhecida dos Caranguejos de “andar para trás”, alguns humanos estão conseguindo imitar. Pode até ser no sentido de metáfora da palavra, pode até ser numa perspectiva da expressão, mas com certeza isso se aplica ao dia a dia na nossa convivência como animais “racionais” que somos ou que deveveríamos agir como.

No entanto, o velho ditado popular que diz “Caranguejo é que anda para trás” é uma meia verdade, os Caranguejos não andam só para trás, eles também são capazes de andar pra frente, só que mais devagar, principalmente quando estão livres de perigo. De qualquer forma não existe frase mais usada quando alguém quer alertar o outro sobre uma ação de retrocesso.

Pois bem, na minha opinião a aplicação mais assertiva para os humanos, deveria ser: “andar pra trás, só se for pra pegar impulso”, quando se pretender reverter alguma coisa ou dar alguns passos para trás para conseguir voltar a seguir em frente.

O intelectual Pernambucano Josué de Castro, que mapeou em 1937 o drama da fome no Brasil já afirmava que os humanos são como caranguejos, estão sempre na lama. “… Caranguejo é o que sois!”, fazendo analogia ao “Homem sempre na Lama“ quando se referia ao mangue. A verdade e que é difícil entender e aceitar que é preciso andar pra trás pra pegar impulso, por isso, é mais fácil puxar as pessoas (os demais “caranguejos”) para baixo, do que tentar “sair da lama”.

Pensando nisso outro dia, me lembrei também de uma antigo “causo popular” que conta que um Cesto com Caranguejos pode ficar sempre aberto, porque nenhum Caranguejo vai fugir, pois, quando um dos caranguejos tenta subir o outro o puxa para baixo. “Onde você pensa que vai? Volte para baixo que aqui é o teu lugar, eu tenho que ir primeiro, se eu não vou, você também não vai” e assim quando um caranguejo tenta fugir, aparece sempre outro puxando para baixo.

O coitado do Caranguejo que quer sair do cesto, além de tentar subir andando pra trás, ainda é puxado por outro Caranguejo invejoso, pois “Caranguejo é o que sois”, no sentido de que, se não for eu, que estejamos todos no buraco ou na lama juntos.

Imaginar esta cena do cesto de Caranguejos me traz além de algumas reflexões e constatações sobre os Caranguejos” das nossas vidas. Muitas pessoas, principalmente das classes sociais mais privilegiadas, agem desta forma. Existem inclusive aqueles que agem naturalmente, publicamente e sem menor pudor, extamente como esses Caranguejos do Cesto. Eu mesmo já fui vítima disso!

Passar por isso incomoda muito, principalmente quando percebemos no nosso dia a dia pessoas com atitude similar ao do Caranguejo, de puxar pra baixo, pessoas que nem se conhece, nem sabe da procedência ou história completa de vida, da sua intenção, luta, sofrimentos, barreiras, glórias, estrada, vitórias, erros ou desafios.

Não se trata de ter que ficar embaixo ou rebaixado, no fundo do cesto, vendo os demais fugirem, se trata de correr por conta própria com seus próprios esforços para sair, sem precisar derrubar ou puxar ninguém pra trás. Não se trata também de se acomodar no fundo do cesto e não fazer nada, de ser o Caranguejo da sua própria vida e se conformar com que a vida ofereceu. Mas de mudar a forma de ver e enxergar as coisas e as pessoas de uma outra forma, por uma outra perspectiva.

Se o sucesso dos outros incomoda, procure o seu sucesso. A coisas devem ser assim, até porque as palavras tem força e quando são jogadas sem a menor distinção, tomam corpo popular e terminam, por vezes, criando uma opinião equivocada de massa e isso, é difícil de mudar. É como uma espiral negativa que corta a mão, se tentar parar.

Faça uma autoavaliação e pergunte a si mesmo se não tem sido um “Caranguejo” na vida de outras pessoas. Talvez alguém esteja querendo alçar novos rumos e você muitas vezes por nada, com ou sem motivos, atrapalha e destroi com suas palavras jogadas ao vento, tentando impedir que aquela pessoa cresça, mude ou apareça.

Se você está sofrendo de que eu chamo de “Síndrome do Caranguejo“, não permita que nenhum “Caranguejo” puxe você para baixo, denuncie, processe se possível!! Mas se você se identificou, mesmo que inconscientemente, como o próprio “… caranguejo é o que sois!”, como sendo um desses malditos Caranguejos do cesto, aqui vão alguns conselhos de graça:

Procure parar de ser do contra; Tente olhar as outras pessoas com outros ohos; Diminua a inveja; Perceba que existe espaço para todos; Procurar pensar e agir coletivamente; Reconheça as diferenças e que o munda dá voltas; Enalteça os feitos alheios; Tenha um bom coração; Pare de falar o que não sabe ou de fazer fofoca; Se tem algum problema com alguém, fale pra ela mesma; Pare de pensar e falar genericamente e negativamente de outras pessoas, da sua cidade e do seu Estado. Até porque cidadão, um dia você poderá ser puxado também para baixo por outro Caranguejo e ai, não vai poder reclamar.

Estimo que os Brasileiros da nova geração não sejam contaminados com esta enraizada cultura da “Síndrome do Caranguejo” e que com o tempo isso mude. Claro, que eu acredito que um dia, a piada do Cesto do Caranguejo, poderá ser apenas um conto popular antigo e que o bom Caranguejo continue sendo somente um delicioso prato.

João Kepler Braga — www.joaokepler.com.br

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João Kepler

Writer, Angel Investor and Board: Bossa Invest, Non Stop Produções, SME the New Educatiion and Equity Fund